
Para muitos torcedores, Zico era a maior - talvez a única - esperança de unir todas as correntes políticas e de reerguer o Flamengo. Mas nem ele, maior ídolo da história rubro-negra, conseguiu tocar o projeto de estruturar e dar mais credibilidade ao clube. Em quatro meses como diretor executivo, conviveu com críticas internas e acusações não comprovadas de que um de seus filhos estaria envolvido em transações de jogadores do time. Ontem, magoado, pediu demissão. Sua saída agrava a crise de uma equipe em desespero no Brasileiro: ameaçada de rebaixamento e sem paz para enfrentar hoje o Botafogo, no Engenhão. Junto com Zico, saiu também o vice de futebol, Vinícius França.
"Morreu no meu coração esse Flamengo de hoje que está representado por essas pessoas, algumas delas que nem sequer conheço e atuam dentro do clube como se fossem os donos", relatou Zico, em carta divulgada em seu site oficial, ao comunicar que deixaria o comando do futebol rubro-negro.
Zico refere-se principalmente ao seu maior desafeto no clube: Leonardo Ribeiro, conhecido como Capitão Léo, ex-chefe de torcida organizada e atual presidente do Conselho Fiscal. Ribeiro levantou suspeitas de que Bruno Coimbra, filho do Galinho de Quintino, teve participação na contratação de jogadores como o atacante Cristian Borja. Além disso, questionou a parceria entre o Flamengo e o CFZ, clube fundado por Zico e hoje sob comando do fundo de investimentos MFD. Alegava que o acordo seria lesivo ao clube da Gávea.
Capitão Léo é famoso nos bastidores rubro-negros por seu gênio truculento e por se envolver em confusões. No último Fla-Flu, em setembro, pelo Campeonato Brasileiro, foi detido por policiais por causa de conflito com tricolores. Ficou preso por dois dias e será julgado em 11 de janeiro de 2011.
"Tomar uma decisão como essa não é fácil. Mas espero que todos entendam que não posso carregar comigo a desconfiança de um dos setores mais importantes do clube, o Conselho Fiscal. E não há condições de debater com essas pessoas que estão a serviço de sabe-se lá quem ou o que, dispostas a jogar sujo e minar o próprio clube", disse Zico.
Em junho deste ano, ele aceitou o convite da presidente Patrícia Amorim para assumir o cargo de diretor executivo. Sua principal meta era construir um Centro de Treinamento (CT), principal demanda do time profissional, e reestruturar as divisões de base, atualmente em situação crítica, com muitos jogadores já fatiados entre grupos de investimento antes mesmo de chegar à equipe principal.
"O projeto foi retardado, mas não abalado", afirmou Patrícia. "Ainda conto com Zico para nos ajudar nesse sonho maior de ter um CT." Com a saída dos atacantes Vágner Love e Adriano, Zico buscou soluções mais baratas. Cristian Borja, Val Baiano e Leandro Amaral vieram sob a desconfiança da torcida e o time continuou em queda no Brasileiro. Por isso, ele se viu obrigado a abandonar a política de austeridade financeira para contratar Deivid, Diogo e Renato, que chegaram fora de forma física.
Na semana passada, Zico recebeu críticas por permitir que pelo menos dez torcedores se reunissem com os jogadores, a portas fechadas, para cobrar mais empenho. Ontem à tarde, enquanto mais de cem rubro-negros faziam manifestação em frente à Gávea contra a renúncia do maior ídolo, Zico se despedia do elenco no Centro de Treinamento Ninho do Urubu, em Vargem Grande (zona oeste), e não conteve as lágrimas.FONTES: Bruno Lousada e Leonardo Maia - O Estado de S.Paulo
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